Quadras
Fantasma de Canterville
No dia 15 de abril
Algo terrível aconteceu
O Fantasma de Canterville
Do nada renasceu.
Por Canterville Chase
Vagueia, na escuridão
Seu corpo nunca encontrado
Vazio está o caixão
Sem nada saber
Sr.Otis a casa comprou
Depressa se arrependeu
Pois alguém o assombrou
Uma mancha de sangue
Na biblioteca aparecia
todos se perguntavam
se era encanto ou magia.
Barulhos de correntes
À noite se faziam ouvir
Evitando que a família
Conseguisse dormir
Simão Ramos
Página de Diário
Quarta, 3 de outubro de 1890
Meu querido diário
O meu dia, hoje, foi de loucos!
Um fantasma pediu-me para o ajudar a morrer, mais, precisamente, o
fantasma que vive em minha casa. Pediu-me encarecidamente que o ajudasse a
encontrar a paz.
Eu, no início, hesitei, mas, como estava muito triste, decidi
ajudá-lo.
Fui com ele, apesar de desconhecer o sítio para onde me levava.
Entrámos numa espécie de portal e, já no local, ele deitou-se numa
cama. Só depois percebi que se tratava do seu quarto.
Ele incentivou-me a ler um livro. Comecei a ler “ os contos” de Eça de
Queirós. A dado momento, ele fechou os olhos e, eu soltei umas lágrimas, pois
sabia que jamais lhe veria a cor dos seus olhos.
Antes de morrer, deu-me uma caixa e disse para a entregar ao meu pai.
Passados alguns segundos, ele foi-se.
Quando cheguei a casa, estavam todos preocupados comigo. Fiz tudo o
que o fantasma me disse mesmo o não queria.
Amanhã, será o seu funeral, para alegria de muitos e tristeza minha.
Como podes ver, o meu dia, apesar de triste, foi incrível.
Marta Martins
Entrevista
Um Fantasma chegou ao Castelo de
Canterville a 28 de junho de 1575. Estou
aqui, hoje, para saber um pouco sobre a sua vida e a razão pela qual escolheu
este castelo para assombrar.
Entrevistador: Bom dia, senhor Fantasma! Estou curioso
por saber a razão pela qual vocês, fantasmas, só aparecerem à noite.
Fantasmas: Bom dia! Boa questão…nós aparecemos
à noite, visto que detestamos a luz solar, já que nos encandeia os olhos.
Entrevistador: As pessoas mais antigas dizem que
vocês, fantasmas, são almas de pessoas que já morreram. É verdade?
Fantasma: Depende dos fantasmas, alguns são
almas de pessoas que já morreram como, por exemplo, eu, mas há outros que são fruto
da imaginação das pessoas.
Entrevistador: Vive no castelo de Canterville. Qual
a razão de ter escolhido este espaço e não noutro?
Fantasma: Muita gente me questiona sobre
isso. Há muitos anos, neste mesmo castelo morreu a Lady Eleanor de Canterville assassinada
pelo próprio marido, Sir Simon. Ele sobreviveu durante nove anos, nunca tendo
sido encontrado o seu corpo. Quanto ao seu espírito… creio que está em mim, por
isso é que vagueio, ou melhor, ele vagueia em mim, por este castelo
Entrevistador: Então o senhor é o Sir. Simon?
Fantasma: Não, eu sou apenas o seu espírito.
Entrevistador: Em que ocupa o seu tempo neste castelo?
Fantasma: Brinco muito com Virgínia, pois para
ela eu sou o seu melhor amigo. Ela confia em mim, conta-me tudo sobre a escola,
sobre o rapaz de quem ela gosta, e, até, sobre as suas aventuras com os gémeos.
Entrevistador: Gosta dos gémeos?
Fantasma: Já tentei assustá-los várias vezes,
mas eles surpreenderam-me pela positiva.
Sabe que uma noite até me atiraram com almofadas à cabeça? São muito traquinas
e gostam de “gozar” comigo.
Entrevistador: E o Sr. Otis? Alguma vez tentou
assustá-lo?
Fantasma: Sim, já o assustei algumas vezes. Na
semana passada, mais propriamente, no sábado, à meia noite, pensando que já
estava a dormir, aproximei-me do seu quarto, só que as minhas correntes traíram-me.
Entrevistador: Não me diga que o sr Otis o convidou
para ir dormir no seu quarto?
Fantasma: Bem, convidar, não convidou, mas recomendou-me
que usasse elixir para tirar a ferrugem das minhas correntes e, assim, não
fizessem barulho.
Entrevistado: E o senhor seguiu o conselho?
Fantasma: Não, pois já tenho muitos anos e
mesmo com elixir as minhas correntes vão continuar a fazer barulho.
Entrevistador: Muito obrigado por ter aceite este convite pois tínhamos
muitas curiosidades sobre si.
Fantasma: O gosto foi meu.
Inês
Crónica
Fantasma de Canterville
Desço
as escadas da mansão, vejo os gémeos a brincar e passo ao lado para eles não me
chatearem. Vou ver o que há para comer, encontro a Virgínia na cozinha sozinha
e cansada. Penso em cumprimentá-la, mas não o faço. Atravesso o hall de entrada e saio para a rua em
direção ao parque. Lá, reina o silêncio, os pássaros dormem e as crianças
também. Eu era o único naquele lugar! Paira no ar uma solidão imensa, as flores
estão mortas e os baloiços enferrujados e abandonados.
Saio
do parque, viro-me para a direita e mergulho na escuridão da rua dos
Esqueletos. Na casa número cinco, há a entrada para a sala de cinema. Entro e
dirijo-me ao vendedor. Todo aquele espaço é bonito, bem arranjado, atraente,
higiénico e impessoal. Compro o meu bilhete, o vendedor recebe a nota e dá-me o
troco. Ausente, abstrato, talvez inseguro. Verá sequer as pessoas que desfilam
diante de si? Apetece-me dizer alguma coisa, que o troco não está certo, que me
deu dinheiro a mais ou a menos mas não digo nada. As máquinas sabem o que fazem
e o vendedor também.
Tenho,
de repente, saudades do bilhete de não sei quantos cêntimos que dentro de
alguns anos se deixará de pedir numa sala de cinema a um funcionário ou a um
vendedor com cara de poucos amigos. Tenho saudades, também, do barulho do
parque com crianças a brincar e os animais a saltitar.
Volto a casa cansado
por ter visto um filme em que ninguém compreende a vida de um fantasma.
Sinto-me desgostoso!
Sinto-me num futuro sem vida!
Simão Gomes